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Entrevista | Cleverson Siewert nega disputar eleições, apresenta quadro econômico do Brasil e fala de legado na Celesc

Por: Marcos Schettini
02/12/2019 16:49 - Atualizado em 02/12/2019 16:58
Luis Debiasi/Alesc

Forte e influente nome do alto escalão da política catarinense por 15 anos, quando esteve na Secretaria da Fazenda e na presidência da Celesc, Cleverson Siewert, apesar de não ser filiado em siglas partidárias, possui trânsito livre por diversos setores empresariais, econômicos e políticos em Santa Catarina. Há um ano distante de cargos públicos, agora na iniciativa privada, o ex-presidente da maior estatal de SC concedeu entrevista exclusiva ao jornalista Marcos Schettini e falou sobre as reformas analisadas no Congresso Nacional, do futuro do sistema elétrico brasileiro e disse que sempre será um conselheiro político, sem intensão de disputar eleições.

Marcos Schettini: As reformas que o Governo Federal tem feito vão dar quais alcances sociais aos cidadãos?

Cleverson Siewert: As reformas são fundamentais para o crescimento do país, tanto as reformas menores, ditas micro reformas, quanto aquelas consideradas estruturais. De 1999 até 2007, ou seja, nos dois governos de Fernando Henrique Cardoso e no primeiro mandato de Lula, o Brasil vivenciou uma série de reformas, incluindo o regime de metas na inflação com a independência do Banco Central, a Lei de Responsabilidade Fiscal, uma série de privatizações, a criação de agências reguladoras e do Super Simples, a nova Lei de Falências, a portabilidade de créditos, entre tantas outras.

Já, entre 2007 e 2015, houve uma interrupção deste processo de reformas, que acabaram sendo retomadas a partir de 2016, com o presidente Michel Temer, com a redução no teto de gastos, a novas Lei das Estatais, a Lei da Terceirização e a Reforma Trabalhista, entre os exemplos. Atualmente, no governo Bolsonaro, vivenciamos a Reforma Previdenciária, além de outras que estão sendo estruturadas.

Eu acredito que todos esses movimentos são fundamentais para a economia do país fluir de forma cada vez mais adequada e trazem reflexos sociais importantes e positivos ao longo do processo. Digo isso a partir dessa análise e da percepção de que o país evoluiu nos anos em que tivemos reformas, com crescimento econômico, mas, sem elas, o cenário foi oposto. Prova é a cegueira econômica registrada a partir de 2013/2014 e o PIB histórico de 2015, que apresentou queda de 3,8%. Já a partir de 2016/2017, a tendência foi mais ajustada.

Schettini: A Reforma Trabalhista fortalece quem? Quais os ganhos e perdas desta iniciativa?

Siewert: A Reforma Trabalhista traz uma série de pontos que dividem as opiniões dos maiores especialistas do país. Se por um lado traz flexibilidade nas negociações e nas relações de trabalho, proporcionando o desenvolvimento de novas rotinas como o tele trabalho em home-office; por outro, altera a forma como alguns direitos foram historicamente estruturados.

Há quem levante a bandeira de que as novas regras aumentam a desigualdade social por impor mais ônus advocatícios ou multas aos trabalhadores em disputas judiciais. Esse argumento é contraposto pelos que defendem uma maior qualificação nos pedidos relacionados com causas trabalhistas.

Os pontos divergentes são muitos, mas uma certeza é de que o Brasil precisava, há muitos anos, atualizar a legislação. O fato de a votação ter ocorrido em regime de urgência pelo Congresso, no entanto, acabou reduzindo as chances de se promover uma discussão mais ampla com a comunidade jurídica e a sociedade. Agora, entendo que precisamos monitorar a aplicação das novas leis para então mensurar mais precisamente as consequências positivas e negativas que essas mudanças trarão ao país.

Schettini: O senhor ficou por 8 anos presidindo uma estatal importante como a Celesc. O sistema elétrico deve ser privatizado? Quais são os benefícios da privatização de setores estratégicos?

Siewert: Na verdade, eu estive dois anos como diretor de Distribuição e seis na Presidência da Celesc, que somaram os oito anos de trabalho junto à companhia. Quanto à privatização, eu acredito que os principais setores da economia do Brasil, assim como no mundo, precisam de uma forte regulação, com metas específicas a serem cumpridas para desempenho técnico e financeiro, garantindo assim a lógica econômica adequada das empresas.

Podemos pensar nisso para os setores de energia, água, saneamento e infraestrutura de uma forma geral, por exemplo. A Celesc, especificamente, é a maior empresa pública de Santa Catarina e contribui fortemente para a economia do Estado. Talvez não seja o caso de pensar em privatizar algo que está dando certo e gera bons resultados. Hoje, com mais de 3 milhões de clientes, a companhia distribui energia para quase todos os municípios catarinenses e ainda possui um parque gerador hidrelétrico. É um patrimônio de Santa Catarina e pode assim continuar, desde que se mantenha eficiente.

A minha concepção, em resumo, é de que, tendo uma regulação forte e cumprindo metas, as empresas conseguem, então, prestar um bom serviço para a sociedade. Independente do regime de comando ser público ou privado, o importante é funcionar diante de regras muito bem estabelecidas.


Durante o Governo Colombo (2011-18), Cleverson Siewert ficou seis anos no comando da Celesc


Schettini: Quando, na prática, os recursos renováveis chegam ao povo brasileiro?

Siewert: Enquanto em nível global as fontes renováveis são a base para, em ordem de grandeza, 33% de toda a energia gerada; aqui no Brasil, 80% da produção energética já vem de fontes renováveis, a partir de recursos hídricos, do etanol, da biomassa e das energias solar e eólica, entre outras.

Tomando como base esse cenário, vejo que o Brasil tem condições de liderar de forma bastante efetiva esse processo, a partir de três grandes pontos. O primeiro deles é através da geração distribuída, sendo que qualquer um de nós pode instalar, por exemplo, um aero gerador ou um painel fotovoltaico em casa - uma vez que o emprego dessas tecnologias tem crescido consideravelmente com a redução nos valores de aquisição. Em todo o mundo, os custos para geração solar diminuíram cerca de 55% nos últimos 8 anos, o que é bastante representativo para fomentar as fontes renováveis. Assim, avalio que, com custos menores e regulação mais inteligente, tendemos a evoluir muito nesse processo.

Um segundo ponto é a eficiência energética, que se expande a cada dia e nos permite ser mais sustentáveis e mais renováveis no uso da energia.

E um terceiro aspecto é relacionado à frota de veículos, com carros elétricos mais disponíveis no mercado e, gradativamente, mais acessíveis ao bolso dos brasileiros. Só em 2018, mais de 2 milhões de automóveis elétricos foram vendidos no mundo, sendo 60% na China, onde há uma concepção mais consolidada para que as cidades se desenvolvam de forma sustentável. Aqui, ainda precisamos de decisões governamentais mais firmes, com subsídios e incentivos que contribuam para essa evolução.

De qualquer forma, vejo que o Brasil tem a vantagem da matriz renovável, com tendência de só evoluir ao longo dos próximos anos. A Agência Internacional de Energia (IEA), composta por 30 países, trabalha essa questão ao redor do mundo e tem a perspectiva de que, até 2040, as energias solar e eólica se tornem as duas matrizes mais importantes do país, principalmente em função do crescente foco em sustentabilidade.

Schettini: O senhor não entrou nas urnas de 2018. Qual é seu futuro político?

Siewert: Em 2018 eu ainda continuava com a missão de presidir a maior estatal de Santa Catarina, a Celesc. Estava finalizando a minha gestão, mas totalmente focado em cumprir os compromissos assumidos com o Governo do Estado, com toda a equipe interna e, especialmente, com os catarinenses. Foram 16 anos de trabalho intenso no cenário público, sendo oito deles na Secretaria de Estado da Fazenda e mais oito junto à Celesc, onde, com a união de esforços, conseguimos realizar uma verdadeira transformação na companhia e contribuir para o desenvolvimento de Santa Catarina.

Não estava nos meus planos uma carreira política em 2018, assim como não está atualmente nos meus planos a candidatura a qualquer cargo público. Hoje estou na iniciativa privada, muito realizado e feliz por poder desempenhar um bom trabalho.

A política, entretanto, é importante, assim como é fundamental que pessoas boas estejam dentro dela. O estímulo é essencial para encorajar quem tem boa iniciativa e possa contribuir para o melhor funcionamento das nossas estruturas de governo. A minha função sempre vai ser a de apoiar essas pessoas com boas ideias, sugestões e um pouco da experiência acumulada ao longo dos meus 16 anos de vida pública.

Schettini: O MDB sem LHS se perdeu?

Siewert: Eu prefiro não comentar sobre o MDB como um todo. Eu nunca fui filiado a um partido, embora tenha sempre mantido uma ligação mais estreita com o MDB pelo relacionamento profissional, mas não cheguei a viver o partido a fundo para fazer uma análise mais abrangente.

O que posso dizer é que o Luiz Henrique era um grande homem público, um admirável articulador político, com uma visão absolutamente diferenciada e acima da média. Eu penso que, não só o MDB perdeu com a sua falta, mas perdemos todos nós; assim como a política catarinense perdeu, o estado e o país como um todo perderam muito com a ausência dele.

Schettini: O que Joinville precisa vencer para ganhar o protagonismo em SC?

Siewert: Joinville já é protagonista no Estado de Santa Catarina, pela nossa gente, nossa força e nossa garra. Somos pessoas que apostam na cidade para construir o futuro, e somos polivalentes por vocação. Indústrias e serviços lideram a pujante economia local, que certamente é uma das responsáveis por colocar Santa Catarina em sexto lugar no ranking de estados com maior número de empresas do Brasil.

Não à toa também, Joinville ocupa a 21ª posição entre os municípios com maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país. A força motora dessa potente engrenagem é, sem dúvida, o povo que aqui vive. Por isso, nossos maiores desafios para os próximos anos são a criação e a manutenção de um ambiente cada vez mais propício aos negócios e, claro, às atividades que proporcionam bem-estar aos cidadãos.

Sem abrir mão de cultuar a indústria local, com sua importância na geração de emprego e renda, precisamos desenvolver uma cidade mais voltada ao setor de serviços, que pode transformar a realidade e criar uma nova cultura interna. Com isso, é possível aumentar o padrão de vida dos joinvilenses e melhorar o dia a dia da cidade como um todo.

Eu penso, acima de tudo, que o importante para Joinville é contar com administradores que trabalhem com essa visão de futuro. Além da realização de obras físicas, precisamos unir todos os envolvidos, incluindo a sociedade civil, os empresários e as diversas vertentes políticas, em prol do desenvolvimento sustentável da cidade. Assim, juntos, com uma concentração de esforços para o bem comum, alcançaremos cada vez mais protagonismo no cenário estadual e nacional.

Schettini: Udo Döhler é individualista?

Siewert: Como eu não estou integrado à rotina da prefeitura, não consigo opinar sobre esse assunto com profundidade e conhecimento de causa. No entanto, eu conheço e escuto falar muito bem do cidadão Udo Döhler, que é, sem dúvida, um empresário de sucesso, um homem de reputação ilibada e, tenho certeza, esforçado em fazer o melhor possível para a cidade de Joinville, onde, de fato temos algumas mudanças perceptíveis nos últimos tempos. Acompanho que existem reclamações, como em qualquer governo ou administração pública, uma vez que ninguém é unanimidade, mas, com toda a certeza, consigo enxergar aspectos positivos nessa gestão.

Schettini: O senhor lançou um livro. Qual é o conteúdo dele?

Siewert: Com a minha saída da vida pública para a iniciativa privada, quis deixar um registro dos 15 anos de trabalho intenso prestados ao Estado de Santa Catarina, pois acredito que o conhecimento e as lições aprendidas em nossa trajetória precisam ser compartilhados. No livro “Cenários e Perspectivas”, eu reúno uma série de artigos publicados na imprensa durante as minhas gestões na Secretaria da Fazenda e na Celesc. O lançamento do livro, organizado em parceria com o Movimento 47, será neste dia 02 de dezembro, no Ágora Tech Park, em Joinville.

Com prefácio do presidente da Fiesc, Mario Cezar de Aguiar, e orelha escrita pelo jornalista Moacir Pereira, a obra reúne 68 artigos distribuídos em cinco capítulos que trazem reflexões a respeito do cenário econômico no Brasil e no mundo, além de traçar um panorama do setor energético brasileiro e catarinense. A minha experiência como líder é destacada em artigos que versam sobre eficiência nos processos de gestão, inovação e valorização de ações voltadas à sustentabilidade e responsabilidade ambiental.

O valor arrecadado com a comercialização do livro será totalmente revertido para a Associação de Amigos da Família Abigail (AAFA), que presta um importante papel social em Joinville.

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